domingo, 10 de fevereiro de 2013

Indecisão e angústia

Como decidir entre o que você quer fazer, o que você deve fazer, o que você precisa fazer, o que é correto fazer? Como decidir qualquer coisa quando sua mente está completamente nublada, quando você quer dormir para sempre, mas a paz necessária nunca chega, e o sono só vem após a exaustão de horas de lágrimas incontidas, e se interrompe constantemente, subitamente, em prantos, um coração galopante, uma angústia incontrolável? Como decidir entre a dor menor, ou a dor maior?

Você respira fundo, se acalma, e mentaliza todos os possíveis universos futuros. Você não consegue enxergar esperança ou alívio em nenhum deles. O desespero começa a tomar conta de seu corpo e de seu espírito. Você está sozinho, mesmo que não esteja. Não há saída, não há como se esconder. Você está num carro a 180km/h numa rua sem saída.

E aí, o que você faz? Você tem um segundo para responder. Você tem a eternidade para responder. Você já respondeu e nem percebeu. Sempre será tarde demais, e cedo demais. Você nunca mais poderá dormir em paz consigo mesmo.

É fácil ver porque é tão difícil decidir. Quando você escolhe um possível universo futuro, os outros são aniquilados violentamente. Guerra, sangue, destruição em massa, isso é o que ocorre quando você faz decisões. É uma responsabilidade do caralho. Não é fácil lidar com a culpa por ter destruído universos inteiros.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vida e morte de um personagem de videogame

Noutro dia eu estava jogando meu Super Nintendo, matando a nostalgia. "Qual é a sensação de perder uma vida?", pergunto ao Mario. "Como assim? Esta é minha única vida, não sei como eu poderia ter outra", responde inocentemente enquanto esmigalha sem remorso alguns goombas sob seus pés. Ele não sabia, não tinha como saber. "O que acontece quando eu desligo o videogame?", insisto. Ele parecia confuso. "Videogame?", indaga. Pela primeira vez em sua existência simples, Mario teve dúvidas. Nunca tinha tido tempo para pensar, sempre estava ocupado demais tentando resgatar a descuidada princesa. A cada início de partida, sua vida iniciava com um simples e único propósito; não existe o antes ou o depois, apenas o agora.

Minha mente se funde à dele, nossos corpos são um só. Eu, ele, nós, não sei mais. Um estranho ballet de botões se inicia. Avançamos bravamente pela fase, derrotando inimigos e atravessando locais de fogo impiedoso sem pestanejar. Em meio a meus devaneios, cometo um erro, perco — ele perde — mais uma vida. Uma morte trágica, estúpida. Se apenas ele — eu, a culpa é toda minha — tivesse tomado um pouco mais de distância naquele pulo, não teria caído no poço de lava. Seus ossos não teriam se desfeito numa chama horrenda. Será que ele teve tempo de sentir dor? Me sinto mal, não por sua morte, mas por minha inabilidade. Raiva, não tristeza. Minha falta de compaixão é aterradora, enquanto pressiono friamente os botões e espero que uma nova partida se inicie.

Lá está ele outra vez, o mesmo bigode, o mesmo macacão, saltitante e quebrando blocos como se nada tivesse acontecido. Esta é minha última chance, estalo os dedos e respiro fundo. "Qual é a sensação de perder uma vida?", pergunto outra vez. "Como assim? Esta é minha única vida, não sei como eu poderia ter outra".

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tempo Perdido

Olho para minha cama confortável. Vou tomar café.
Olho para minha cachorrinha. Ela olha para mim, e volta a dormir.
Olho para meu PS3 refletindo a luz da manhã. Vou tomar banho.
Olho para a foto da minha namorada. Talvez esse final de semana. Vou me vestir.
Olho para os livros e quadrinhos que comprei por impulso. Vou arrumar a mochila.
Olho para meu DS. Viro ele nas mãos, abro e ligo, ouço o som característico. Não há espaço para usá-lo no metrô. Levo mesmo assim.
Olho para o relógio. Sinto cada segundo passando, cada balanço do pêndulo cortando inexoravelmente um pedaço da minha vida.
Olho para a porta. Respiro fundo. Com dificuldade, cumpro a incrível tarefa de pôr um pé na frente do outro.
Mais um dia, como qualquer outro.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Resurrection

There's a breath of life
I can now see some light
Are we getting to somewhere?
Can I stop this blank stare?

The Sun's touch warms me
And I feel happiest than ever
I'm close to her, her breasts are cozy
It's so beautiful, how these flowers dance together!


Esta pode ser considerada a Ascenção, esperada pelo meu texto anterior, Komm, süßer Tod.

Komm, süßer Tod

O texto a seguir não reflete minhas atuais emoções. Escrevi um tempo atrás e acabei não publicando. Eu estava em depressão profunda, por diversos motivos, e ainda fiz a besteira de voltar a ver Evangelion (que me deixa ainda mais deprimido). No momento, estou feliz.


Falling
That's all pointless. All the memories that I've been running from, they keep crawling back to torment me. A memento that I can't throw away. Even if I pray for the eternal rain to wash my sins, I must not be forgiven. For all the things I've done in my life, I must die.

Despair

There's no redemption. No one will save me. If all that's left for me is despair, then I'll drown in this pool of blood!
But no... please, someone save me! I want to live, so please, anyone, help me!

Rising
Yet to be done.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Película

Rafael era um grande fã de filmes. Vivia tendo aventuras, dramas e romances. Quando ficava chateado, arranjava logo uma comédia, e fazia com que todos se divertissem.
Ele tinha uma trilha sonora para cada situação, e sabia também usar o silêncio para ampliar os momentos. Adorava diferentes personalidades, com suas qualidades e problemas, e nunca ficava muito tempo sem mudar de personagem. Seus amigos o achavam um tanto quanto excêntrico, e muitos não suportavam as mudanças de gênero constantes. De uma forma ou de outra, marcou presença na escola onde estudava, seja curtindo a vida adoidado ou vencendo um campeonato de karate mesmo machucado.
Quando tinha dez anos, seus pais saíram em uma viagem de férias, esquecendo-o em casa. Pausa dramática. Barulhos do lado de fora. Zoom em seu rosto juvenil assustado. Ladrões tentam invadir a casa. Felizmente Rafael era um garoto esperto, e conseguiu dar conta dos dois meliantes antes mesmo que seus pais voltassem, desesperados.
Aos quatorze, já encarava valentões e - música de vitória - algumas vezes até vencia-os. Aos dezesseis, conheceu uma garota, nova na escola. É, pensou, está na hora da minha primeira comédia romântica. E eles riram, se apaixonaram, tiveram um grande conflito e uma resolução de dar lágrimas nos olhos, e viveram felizes até Rafael resolver viver um drama vencedor de festivais.
Entre umas e outras, ele era feliz. Mas como todo bom filme, a história precisa chegar à um fim, e todos sabem que os melhores sempre terminam tristes, e sem margem para continuações. O de Rafael foi abrupto e simples, sem ramificações aparentes ou ligação com o enredo central, quase uma antítese à todos os acontecimentos extraordinários de sua vida. Com o carro em chamas ao fundo, uma música feita em todas as notas para provocar choro, em câmera lenta, seus familiares se debruçam sobre seu corpo sem vida. Ninguém jamais entenderia o porquê do sorriso discreto, fixo em seu rosto. A música vai silenciando, a câmera se afasta lentamente. Os créditos subiriam, e as pessoas sairiam da sala sem palavras. Foi um belo final, digno de um ganhador de Oscar. Uma obra prima, de uma espetacular simplicidade. Seus pais teriam tempos difíceis, mas com o passar dos anos, reaprenderiam a viver. Porém, isso já é enredo para outro filme. Para Rafael, resta a escuridão da sala vazia e suja de pipoca.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Saudades de Sentir

Sinto falta de sentir
que você é realmente
unicamente minha
Calor, não frio

Preciso de cura, preciso de paz
Os seios de uma mulher
deveriam ser o refúgio de um homem
não sua angústia

Meu último beijo foi
de saudade e
paixão desesperada por
aquilo que já não mais é

O medo e o desconforto
quando meus pés acompanham os teus
filtram minha capacidade
abalam minha fortaleza

Ando pelas ruas e vielas
meio vivo, meio morto
uma casca vazia
esperando um sopro de vida por
                                 acalentar-lhe

O amor existe, preservado
e sempre aguardará
enquanto espero o dia em que
eu possa realmente
e unicamente
                      possuir-te outra vez